domingo, 10 de julho de 2011

Só em caso de emergência



Conhecida no Brasil desde o final da década de 1990, a pílula do dia seguinte não demorou a se popularizar entre os jovens. Mas o que deveria ser uma saída de emergência para evitar a gravidez indesejada depois de ter relação sexual sem proteção, muitas vezes acaba virando uma rotina. A dosagem hormonal desse medicamento equivale a pelo menos sete pílulas comuns.


Para a ginecologista Albertina Duarte, que coordena o Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria de Saúde de São Paulo, o uso repetido da pílula do dia seguinte é prejudicial porque provoca uma descarga hormonal muito grande no corpo da jovem. “Ela deveria servir como um dispositivo de segurança, um extintor de incêndio: o ideal é não precisar, mas é bom saber que está ali”, afirma.

A anticoncepção de emergência – nome técnico do método – é indicada em casos de violência sexual, acidentes com o preservativo (a camisinha “estourou” ou não foi colocada direito), com o deslocamento do DIU ou do diafragma. Ela deve ser tomada logo depois da relação sexual desprotegida, de preferência nas primeiras 12 horas. Ainda faz efeito se tomada até cinco dias após a relação, mas a eficácia diminui. Quanto mais cedo, melhor.

Segunda-feira é o dia

A pílula do dia seguinte não substitui um método regular para evitar gravidez indesejada, nem protege contra doenças sexualmente transmissíveis. Segundo estudo realizado pela secretaria de Saúde do estado de São Paulo, mais de 30% das jovens com vida sexual já recorreram à pílula dia seguinte pelo menos uma vez, e muitas tomam repetidas vezes ou até de forma rotineira.

Albertina Duarte destaca a adesão muito rápida de mulheres de diferentes idades ao método, principalmente se comparada à da pílula convencional, que existe há décadas. “Nas segundas-feiras, uma das perguntas mais frequentes do serviço de ligações que tira dúvidas dos adolescentes é ´Transei sem camisinha no fim de semana. Ainda dá tempo de tomar pílula do dia seguinte?´”, conta.

Apesar de o anticoncepcional de emergência ter se popularizado, ainda existem dúvidas sobre como e quando usá-lo. Um estudo da Universidade Federal de Pernambuco mostrou que, em 2006, 27% das jovens do ensino médio daquele estado, entre 14 a 19 anos, já haviam experimentado o método, mas 78% o fizeram de maneira errada. Algumas meninas tomavam o medicamento antes do ato sexual ou ao notar o atraso da menstruação.

Falha é maior que a da camisinha

Conhecer diferentes métodos anticoncepcionais é importante antes mesmo da primeira transa. Assim, os jovens poderão fazer a escolha conhecendo riscos e benefícios. A pílula do dia seguinte também tem possibilidade de falhas. Segundo o Ministério da Saúde, ela tem eficácia média de 75%. Isto significa que pode evitar três de cada quatro gestações. “A chance de falha, especialmente em caso de uso repetido, é maior do que de qualquer anticoncepcional regular, e maior também do que a da camisinha”, explica a ginecologista.

Na sua opinião, o que atrapalha a prevenção regular contra gravidez é o medo da família, da crítica, do julgamento. “Muitas vezes a jovem conta que a camisinha estourou, mas o que estourou foi o tempo: porque houve pressa ou falta de habilidade para botar.”

Albertina Duarte comanda um programa que resultou na redução de 36% na gravidez indesejada de adolescentes em São Paulo nos últimos dez anos.

Parceria e atitude

A visão da ginecologista sobre o tema tem pontos em comum com o de Soraya Fischer, antropóloga da Universidade de Brasília. Para ambas, é preciso conhecer o contexto social e afetivo que cerca as relações se quisermos entender o que estaria levando a esse "último recurso", e não a uma prevenção regular.

A informação sobre o funcionamento do remédio, e até o mecanismo da própria reprodução como um todo, também pode estar sendo mal interpretada. “Será que todas as jovens sabem mesmo como e em que momento se dá a gravidez?”, pergunta a antropóloga.

Ela destaca que nem sempre os medicamentos são usados pela população como esperam os profissionais de saúde e fabricantes, e a pílula do dia seguinte é um exemplo disso. “As pessoas não são sacos vazios onde a equipe profissional de saúde ou os educadores sexuais simplesmente depositam a informação biomedicamente ´correta`. Qualquer informação que chega até alguém sobre saúde vai dialogar com o que ela já sabe ou acredita sobre aquilo.” No caso da saúde sexual e reprodutiva, Soraya Fischer acha importante entender como estão ocorrendo os relacionamentos afetivos e o nível de confiança que há entre os parceiros.

Segundo ela, é possível que as moças estejam incluindo a pílula do dia seguinte na lógica da prevenção, e não da situação extraordinária. Assim, estariam arcando com os riscos.

Albertina Duarte dá outras pistas: “A jovem fica sozinha nessa decisão sobre prevenção, pela falta de diálogo com o parceiro, sobre o uso da camisinha, por exemplo. Prevenção é uma questão de parceria e de atitude.”

(Elisa Batalha)

Para saber mais:

Entre dúvidas e desejos

Perguntas mais frequentes (BVS Adolec)

Adolescentes de Pernambuco usam pílula de forma errada

Por que há jovens tomando a pílula do dia seguinte antes da relação sexual?



















segunda-feira, 13 de junho de 2011

Florianópolis terá Marcha das Vagabundas no próximo sábado Evento contra o machismo já ocorreu em vários lugares do mundo

A exemplo do que já ocorreu em vários países e em outros estados brasileiros, Santa Catarina terá sua primeira Marcha das Vagabundas. O evento contra o machismo e a violência será no próximo sábado em Florianópolis.



As Marchas das Vagabundas começaram depois de um policial no Canadá afirmar que as mulheres deveriam evitar se vestir como putas para não serem vítimas de estupros. Mulheres de todo o mundo se revoltaram e começaram a se mobilizar para reverter a cultura de que a culpa nos casos de assédio sexual é das vítimas.



Em Florianópolis, a concentração para a marcha será às 13h de sábado em frente a Praça XV de Novembro, no Centro. O evento, que está sendo divulgado no Facebook, é uma forma de apoiar as canadenses e chamar a atenção para o fato de que no Brasil posturas como essa também existem.



Na rede social a discussão sobre o tema já começou. Muitos são favoráveis ao fato de que mulheres não podem ser julgadas pelo que vestem, mas há quem seja contra o movimento.



Clique aqui e confira como foi o protesto no México:
 http://www.youtube.com/watch?v=s7M0ymh8Zl8

sábado, 14 de maio de 2011

O bê-á-bá para conviver com a diversidade sexual


 MEC cria kit anti-homofobia para combater o preconceito na escola. Por Tory Oliveira. Foto: Eduardo Knapp/Folhapress

MEC cria kit anti-homofobia para combater o preconceito na escola

Depois de discutir com uma colega na aula de Educação Física, Alecks- Batista foi abordado dentro dos muros do colégio particular onde estudava pelo pai da menina. “Ele me chamou de bichinha, viado e aidético”, lembra, que na época tinha 16 anos. A diretoria do colégio de classe média alta de Curitiba, no Paraná, não se manifestou sobre a agressão. “E eu me vi ali sozinho.” Hoje com 20 anos, estudante de Ciências Contábeis e gay assumido, Alecks ainda se lembra da sensação de isolamento, das piadinhas e da discriminação praticada pela maioria dos professores e alunos durante o Ensino Médio. Na sua época de escola, Alecks não era convidado para festas ou para jogos de futebol – na maior parte do tempo, circulava acompanhado apenas de amigas mulheres ou com dois outros colegas, também gays.
A situação vivenciada por Alecks não é exceção – investigações realizadas pela Unesco e também pelas ONGs Reprolatina e Pathfinder demonstram que há forte presença da homo-lesbo-transfobia (discriminação contra gays, lésbicas, transexuais e travestis) dentro das escolas brasileiras. Publicada em 2004, a pesquisa da Unesco revelou, por exemplo, que um quarto dos estudantes entrevistados não gostaria de ter um colega homossexual na mesma sala. De acordo com a pesquisa qualitativa realizada pela Reprolatina em 2009 em 11 capitais brasileiras, evasão escolar, tristeza, depressão e até casos de suicídio são observados entre a população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) como consequência de um ambiente escolar homofóbico. “O ambiente escolar é em geral hostil para o exercício da diversidade sexual. Os professores não estão preparados e não têm compreensão maior da sexualidade e da homossexualidade”, explica a pesquisadora responsável pelo estudo, Margarita Díaz.
Diante do quadro, o Ministério da Educação, em parceria com entidades ligadas aos direitos LGBTs, produziu um kit de material educativo que será distribuído oficialmente para os professores de 6 mil escolas públicas a partir do segundo semestre deste ano. O projeto – batizado informalmente de “kit anti-homofobia” – é uma das ações do programa federal Escola sem Homofobia. Polêmico, o assunto já vem causando celeuma, principalmente na internet, onde grupos se manifestam acaloradamente a favor e (principalmente) contra o material, chamado de “kit gay” pelos seus opositores.
O kit
Destinado ao Ensino Médio, o kit é composto de caderno, pôster, carta ao gestor da escola, seis boletins (boleshs) e cinco vídeos. “É um material para a promoção dos direitos humanos, com o objetivo de fazer da escola um espaço de todas as pessoas, onde se possa aprender a conviver com a diversidade”, justifica Maria Helena Franco, uma das coordenadoras de criação do kit de material educativo. Considerado peça-chave do kit, o caderno é um livro de 165 páginas, no qual o educador encontra referências teóricas, conceitos e sugestões de atividades e oficinas para se trabalhar o tema da diversidade sexual nas escolas. “O caderno ensina como fazer um projeto político-pedagógico a ser assumido pela escola como um todo sobre esse enfrentamento da violência homofóbica”, conta Maria Helena. Escritos em linguagem jovem e acessível, os boletins seriam distribuídos entre os estudantes e também tratam da temática da diversidade sexual, com jogos, depoimentos e sugestões de filmes.
Entretanto, o objeto de maior polêmica é a parte audiovisual do kit, que inclui três pequenos vídeos produzidos especialmente pela ONG Ecos, que trabalha com o tema desde 1989. Produzidos com diferentes estéticas – teledramaturgia tradicional, animação de fotos e desenhos – os vídeos abordam de forma coloquial temas específicos como lesbianidade, transexualidade e bissexualidade. “São temas muito estigmatizados e pouco compreendidos”, explica Vera Lúcia Simonetti Racy, uma das coordenadoras da criação do kit do material educativo.
Criado por uma equipe multidisciplinar, o kit completo levou cerca de dois anos para ser pesquisado, construído e validado. Apenas o roteiro de um dos filmes, sobre o namoro de duas meninas, demorou oito meses para ser aprovado.
Ousada e polêmica, a proposta do material educativo atende a uma demanda das entidades que lutam pelos direitos LGBTs e também dos educadores – que não encontravam subsídios para trabalhar o tema em aula – além de estar articulada com políticas públicas de combate à homofobia de maneira geral. “O que a gente quer é que o professor esteja atento a essa situação de homofobia. A escola precisa ser um espaço de respeito e de formação cidadã.”, conclui Carlos Laudari, presidente da ONG Pathfinder.
Preconceito velado
Realizada em Manaus, Porto Velho, Recife, Natal, Goiânia, Cuiabá, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba, a pesquisa da Reprolatina procurou investigar qual era o conhecimento e a atitude prática de educadores e alunos a respeito da homofobia nas escolas. Foram entrevistadas 1,4 mil pessoas, desde secretários da Educação até pessoas que fazem parte do cotidiano da escola, como merendeiras e porteiros, passando por diretores, coordenadores, professores e estudantes.
Foi detectado um ambiente altamente homofóbico – resultado semelhante em todas as cidades – uma realidade, porém, em geral negada pela comunidade escolar. Segundo Margarita Díaz, quando perguntados sobre a existência de homofobia na escola, a resposta dos participantes da pesquisa era quase sempre negativa. Entretanto, quando se começava a discutir sobre o que acontecia quando havia a presença de um menino gay ou uma menina lésbica na escola, os relatos mostravam muitas piadas e atitudes potencialmente ofensivas. Tais reações não eram catalogadas como homofobia. “Elas são enxergadas como brincadeiras. Na verdade, essa ‘brincadeira’ é, sim, uma reação homofóbica, mas ela está muito naturalizada”, explica Margarita.
A ausência de aulas sobre educação sexual que contemplem a diversidade também é apontada como um dos fatores que contribuem para a permanência da homofobia nas escolas. Segundo especialistas, a educação sexual disponível para a maioria dos estudantes é essencialmente heteronormativa, ou seja, reproduz um modelo que coloca a heterossexualidade como norma, o que acaba classificando outras manifestações de gênero, amor e sexualidade como desvios. “É uma educação sexual baseada no senso comum da sociedade, e não uma educação sexual antenada com as políticas públicas”, conta Margarita Díaz. Outro ponto percebido durante a pesquisa era o desconhecimento pelos educadores da existência de políticas públicas voltadas ao combate da homofobia.
Evasão escolar
Além de casos de violência física, uma forma quase invísivel de violência nas escolas – que inclui o isolamento, rejeição, brincadeirinhas e piadas – também costuma marcar os jovens homossexuais para a vida toda. “Especialmente na adolescência, a gente quer se enturmar. Quando você é rejeitado pelos seus pares, é um sofrimento horrível”, conta a terapeuta especializada em diversidade sexual e questões de gênero, Edith Modesto, que também é fundadora do Grupo de Pais de Homossexuais (GPH) e do Projeto Purpurina, que atende jovens de 14 a 24 anos. “Eles falam da escola com muita mágoa, lembram da discriminação, do desprezo e da rejeição.”
O quadro é ainda mais grave quando se analisa a situação de estudantes transexuais e travestis. Segundo especialistas, não há espaço para eles na escola. Além de o preconceito ser maior, questões como o uso do nome social na chamada ou até mesmo situações prosaicas como qual banheiro o jovem travesti deve usar pesam e acabam contribuindo para o abandono da escola. “Existe uma porcentagem dos nossos jovens que está sendo socialmente discriminada e forçada a assumir um papel sexual que não é dela”, lamenta Carlos Laudari. “A gente pretende que a escola seja uma escola cidadã, em que o aluno brasileiro aprenda a viver com a diferença.”
“Outro aspecto importante da necessidade de esse tema estar na escola é que certos jovens acabam saindo, porque o sofrimento é tão grande e o ambiente é tão agressivo que a criança ou o adolescente acaba desistindo de estudar. Os índices de evasão escolar são significativos para essa população”, explica Vera Lúcia. Segundo ela, o papel mais importante do kit anti-homofobia é informar e contribuir para erradicar a violência e o preconceito. “Na medida em que você trabalha esse tema na escola e consegue criar uma convivência melhor e mais respeitosa, isso acaba se refletindo nas relações sociais como um todo.”

Tory Oliveira

Revista Carta na Escola

quinta-feira, 3 de março de 2011

Pesquisa encontra vírus HPV em 50% dos homens

A metade dos homens saudáveis está infectada com HPV, indica um dos maiores estudos já feitos sobre a incidência da doença no sexo masculino. Os resultados são publicados nesta terça-feira no "Lancet".
O HPV (papiloma vírus humano) é transmitido por relações sexuais na maioria das vezes, e pode causar lesões na pele e nas mucosas.
A pesquisa acompanhou por quatro anos 4.074 homens de 18 a 70 anos do Brasil, dos EUA e do México.
Eles tiveram amostras recolhidas do pênis e do escroto submetidas a análise. Dos 50% com HPV, 30% tinham o vírus que pode levar a câncer, 38% tinham o não cancerígeno, e o restante tinha mais de um tipo de HPV.
Há mais de cem tipos de HPV, mas a maioria é inofensiva e assintomática.
As altas taxas de contaminação nos homens, superiores às das mulheres, surpreendem. Na população feminina, mais associada ao HPV, a taxa média de contaminação é de 14%, compara a pesquisadora Luisa Villa, do Instituto Ludwig, responsável pelo estudo no Brasil.
"Antes, acreditava-se que os homens tinham menos HPV, que as infecções ocorriam em menor proporção. Mas eles também têm infecções, e em taxas mais elevadas do que as mulheres."
Apenas recentemente é que começou a se estudar sobre o HPV no homem. Um dos motivos para isso é que, nas mulheres, as consequências das contaminações são mais graves, como o câncer de colo de útero -segundo tumor mais frequente, depois do de câncer de mama.
"Os homens foram deixados de lado. São o vetor do vírus, mas as mulheres têm mais doenças por causa dele", diz Glauco Baiocchi Neto, diretor de ginecologia oncológica do A.C. Camargo.
O risco aumenta com o número elevado de parceiras e com a prática de sexo anal.
As chances de ter HPV que pode evoluir para um câncer aumentaram 2,4 vezes em homens que tinham tido mais de 50 parceiras, e 2,6 vezes em homens com pelo menos três parceiros.
MAIS IMUNIDADE
Outra novidade da pesquisa é que, entre os homens, o risco de adquirir o vírus é constante, dos 18 a 70 anos. Entre as mulheres, o risco é maior até os 25 anos e tende a diminuir com o tempo.
Segundo o estudo, ainda não se sabe o porquê dessa diferença, mas há hipóteses.
Uma é que o número de parceiras sexuais do homem é constante por toda a vida, o que faz com que aumente sua exposição. Por outro lado, essa maior exposição poderia criar uma resposta imune que os protege de outras infecções subsequentes.
PREVENÇÃO
O estudo frisa a importância da vacinação contra HPV em homens de todas as idades, como prevenção.
Estudo recente publicado no "New England" e feito em mais de 18 países, incluindo o Brasil, mostrou que a vacina contra o HPV pode ser eficaz também em homens.
Mas sua aplicação em homens só foi aprovada em alguns países, como EUA, Panamá, Equador e Austrália.
O Brasil usa dois tipos de vacina contra o HPV, só em mulheres. São encontradas em clínicas particulares e indicadas a meninas e mulheres entre nove e 26 anos, mas não excluem a necessidade do Papanicolaou para prevenção do câncer.
Camisinha reduz o risco, mas, diz o urologista Alvaro Sarkis, não protege 100%.
Para Jorge Hallak, professor de urologia da USP, a melhor prevenção é a circuncisão, que diminui em mais de 70% as chances de contágio.
MARIANA VERSOLATO
DE SÃO PAULO
Folha de São Paulo

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Anticoncepcionais: não dá para evitar Em algum momento da vida, toda mulher terá de usar um contraceptivo. Conheça os mais indicados para cada fase


No princípio, era a tabelinha. A mulher não dispunha de outro artifício para evitar uma gravidez fora de hora. Por isso, os filhos se enfileiravam formando uma escadinha. No início da década de 1960 veio a redenção: foi inventada a pílula anticoncepcional e a mulher passou a ser dona de seus óvulos. Já havia a camisinha, claro, mas seu uso dependia mais do homem que da mulher. E a utilização desse contraceptivo só se popularizou mesmo na década de 1980 como uma forma de proteção contra as doenças sexualmente transmissíveis, principalmente contra o vírus HIV. Nesses últimos anos, várias pílulas novas surgiram e novos métodos se somaram a ela: DIU, diafragma, adesivos, injeções, etc.
Hoje, o casal bem informado escolhe quantos filhos quer ter e quando, causando uma inversão total no quadro: com os métodos disponíveis, mulheres adiam tanto a maternidade que, quando decidem que finalmente querem um filho, não conseguem engravidar. Na década de 1960, cada mulher tinha cerca de seis filhos e, em 2009, segundo a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a taxa caiu para 1,9. É bom ser dona do destino e definir a hora de ser mãe, mas para não comprometer a saúde, é preciso escolher o método certo. "Deve-se levar em conta a idade da mulher, as doenças associadas e seu modo de vida", diz a ginecologista Rosa Maria Neme, diretora do Centro de Endometriose de São Paulo.
E isso não se faz sozinha. Escolher o contraceptivo por conta própria implica em grande risco. "É preciso saber como fazer a transição de um método para outro, ou pode acontecer uma gravidez indesejada", diz Rosa. Além disso, somente um especialista é capaz de dizer qual é o mais indicado e identificar os efeitos colaterais. Os contraceptivos devem ser considerados medicamentos, e a automedicação nunca é recomendada. Veja a seguir as melhores opções para cada fase da vida.
No dia seguinte: entenda o que faz a pílula
A pílula do dia seguinte ainda causa alguma polêmica porque muitos a consideram abortiva. Mas, na verdade, ela age antes que a gravidez ocorra. Tomada até 72 horas depois da relação sexual, ela provoca uma descamação na parede do útero que impede a fixação de um possível óvulo fecundado. Mas se não for tomada dentro desse período, pode não fazer efeito.
O medicamento só deve ser comprado com receita médica e os efeitos colaterais costumam ser acentuados, como náuseas e dores de cabeça fortes. Por isso, deve ser usada apenas como uma forma de contracepção de emergência. Além disso, sua eficiência pode ser menor do que a pílula convencional, que é de 99%. Se tomada até 24 horas, a chance de engravidar é de 1%, mas sobe para 5% em 72 horas.
Não escolha o anticoncepcional por conta própria. Lembre-se de que ele é um medicamento e a automedicação nunca é recomendada
Na adolescência
Não existe idade mínima recomendada para a utilização de pílulas, embora alguns estudos contraindiquem seu uso na adolescência por aumentar o risco de câncer de mama no futuro. Mas isso não está absolutamente comprovado. E a necessidade de evitar uma gravidez indesejada costuma compensar os riscos.
A pílula é a mais apropriada, mas o médico deve definir qual, dentre as disponíveis no mercado, é mais indicada para o perfil clínico.
Além da contracepção, a pílula melhora a pele e reduz as cólicas, o sangramento e os sintomas de TPM. "Nessa fase é indicado que a pílula seja acompanhada por um método de barreira, ou seja, a camisinha. Isso melhora a eficácia da contracepção e protege da contaminação por DSTs, como sífilis, gonorreia, HIV e HPV", diz o ginecologista e obstetra Afonso Nazário, chefe do departamento de Ginecologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Para quem não tem parceiro fixo
"Uma boa escolha é associar mais de um método de barreira, como o diafragma e a camisinha", diz Nazário. Com o diafragma não há uso de hormônios que, para algumas mulheres, provocam efeitos colaterais como inchaço e dores de cabeça.
A camisinha concede proteção contra as DSTs. E os dois métodos associados, se usados corretamente, garantem uma eficácia de 100% contra a gravidez.


Quem está no início de carreira e quer evitar filhos de qualquer forma
"Tanto anticoncepcionais hormonais (pílula e suas variações) quanto o DIU são altamente eficazes e seguros", garante Nazário. No caso de quem tem parceiro fixo, não portador de DSTs, o uso de camisinha pode ser dispensado.
A pílula masculina
O anticoncepcional masculino já foi aprovado, mas ainda são necessários mais testes antes que ele chegue ao mercado. Um dos efeitos colaterais que precisa ser superado é a diminuição do desejo sexual e a variação do humor. Seu princípio de funcionamento é bloquear a maioria dos espermatozoides.
Enquanto a pílula masculina não chega, há sempre novidades para as mulheres. Recentemente foi lançada pela Bayer Schering uma versão que combina estrogênio natural e progesterona e é especialmente benéfica para as fumantes, que devem evitar o estrogênio sintético, e para mulheres muito sensíveis, que apresentam fortes efeitos colaterais.
Quem quer ter filho logo
Pode ser qualquer um deles, até mesmo a pílula. "Existe um mito de que o uso da pílula por longos períodos compromete a fertilidade da mulher, mas isso não é verdade. Assim que a mulher para com a pílula volta a ter ciclos ovulatórios e pode engravidar", diz Marcello Valle, ginecologista especializado em reprodução humana, da Clínica Origem (RJ). O que dificulta a gravidez é o avançar da idade.
Se a mulher tomar pílula por 15 anos - digamos, dos 20 aos 35 - poderá não engravidar porque sua taxa de fecundidade diminuiu, não por causa da pílula. Mesmo com tudo ok com a fertilidade, é aconselhável que a mulher evite engravidar por três meses depois da suspensão da pílula. "Embora exista a possibilidade de gravidez imediata, pode haver um pequeno risco de abortamento porque o endométrio (mucosa interna do útero) pode ainda não ter voltado ao normal para receber o óvulo fecundado", diz Nazário.
Quem já teve filho e não quer engravidar novamente
"Existem pílulas específicas para serem usadas durante a amamentação, com dosagem menor, e que não fazem mal ao bebê", diz Valle. Enquanto amamenta, a chance de a mulher engravidar é pequena, mas não pode ser desprezada. "Depois de passada essa fase, a mulher pode retomar o método que usava antes da gravidez", completa Valle. Mas com um ou mais filhos pequenos, e tantas tarefas na cabeça, a mulher muitas vezes pode se esquecer de tomar a pílula. "Por isso, muitas vezes costumo indicar o DIU, implantes ou métodos injetáveis", diz Nazário.
Mulheres no climatério
"As pílulas de baixa dosagem são uma boa opção para mulheres que já apresentam sintomas do climatério, mas ainda menstruam e, portanto, têm chance de engravidar. Após a menopausa - ou seja, a parada total da menstruação - não há mais necessidade do uso de anticoncepcional", diz Valle. "Mas nessa fase é especialmente importante que as fumantes evitem os anticoncepcionais com estrógeno sintético", lembra Nazário. A associação desse hormônio com cigarro aumenta a chance de trombose e pode ser especialmente nociva no climatério, quando o organismo começa a perder a proteção dos hormônios femininos.
Fotos: Fabio Mangabeira (Escala Imagens) / Shutterstock
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